quinta-feira, 7 de março de 2013

'Colegas' – sonhos, coragem, amor e muito riso

Antonio Carlos Ribeiro

Colegas (Dir. Marcelo Galvão, com Ariel Goldenberg, Rita Pokk, Breno Viola e Lima Duarte. Comédia , Brasil, 2012) é um filme especial. Tocante, bem-humorado, com belas paisagens e cenas inusitadas. Mas tem um pré-requisito fundamental: exige dose extra de sensibilidade, daquele tipo que nos torna humanos, básicos, genéricos, sem afetações, que usa a linguagem esconder, mentir ou humilhar.


Trata-se de uma comédia que conta a história de três jovens com síndrome de Down que vivem num Instituto, decidem dar novo rumo a suas vidas. Fogem num Karmann-Ghia, um carro esportivo italiano muito conhecido nos anos 60 e 70, tomado emprestado do jardineiro. Saem do interior de São Paulo e chegam a Buenos Aires.

O roteiro segue Thelma & Louise, de Ridley Scott, tendo paisagens brasileiras como pano de fundo. Cada um tem um sonho e Colegas é a luta para realizá-los. Stalone (Ariel) quer ver o mar. Marcio (Breno Viola) insiste na ideia de voar. E Aninha (Rita Pokk) deseja encontrar um marido que seja cantor. O enredo, movido a ousadia e lances de risco e sorte, é uma aventura baseada nas coisas simples da vida.

De cidade em cidade, cruzando com personagens cotidianos, enquanto atravessa os estados do sul e chega à Argentina. Antes do filme chegar às telonas, conseguiu uma vitória significativa na internet. Amigos de Ariel Goldenberg produziram o vídeo ‘#vemseanpenn’, documentando a vontade do ator de trazer o astro Sean Penn para assistir a estreia. Os atores Juliana Paes, Lima Duarte, Caio Castro e Gabriela Duarte apoiaram a campanha, junto com outros artistas brasileiros, recebendo 1 milhão e meio de acessos no YouTube.

O filme ganhou cinco kikitos no Festival de Gramado de 2012, inclusive o de melhor filme, e recebeu premiação da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, entre outros. Ademais foi exibido e aplaudido nos festivais de Trieste (Itália), Moscou (Rússia) e Utah (EUA).

Além dos protagonistas, o elenco contou com Lima Duarte, Leonardo Miggiorin, Marco Luque, Juliana Didone, Christiano Cochrane, Daniele Valente, Otavio Mesquita, Germano Pereira, Nill Marcodes, Thogun e mais de 60 jovens com síndrome de Down. O desprezo do colunista da Folha de S. Paulo, retomando diversos ‘momentos’ da cinematografia mundial, que foram responsáveis por muita risada, revelou não ter percebido o esforço de superação, o desempenho dos atores, a linguagem hilária, sem perceber o ‘mote’ do filme e perdendo a capacidade de participar da alegria

E, sem isso, caímos na insensibilidade que ofende, no desacato sofisticado e suave (soft), no ataque do qual não podemos ser acusados, cujas consequências se estendem na memória dos sujeitos históricos aos quais não atribuímos valor. Como um editor da TV Globo que anunciou a morte do presidente Chávez com um sorriso irônico, enquanto as ruas de Caracas se transformavam num imenso mar vermelho. Incólume à última década.

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