sábado, 3 de novembro de 2012

Ato inter-religioso evoca a memória dos mortos e desaparecidos

Antonio Carlos Ribeiro
Fotos: João Carlos Araujo e Christine Drini

Rio de Janeiro – Um ato ecumênico e inter-religioso realizado na 6ª feira, dia 2 de novembro, no Cemitério Ricardo de Albuquerque, zona oeste da cidade, evocou a memória de mortos e desaparecidos da ditadura civil-militar brasileira. O culto contou com a participação de cristãos, judeus e membros da Umbanda e do Candomblé, das quais havia bispo, monge budista, sacerdotes, pastores, babalorixás e demais lideranças.


O ato se deu em frente ao monumento do Grupo Tortura Nunca Mais, composto de uma placa de aço preta, com o nome da entidade, a reprodução da imagem do monumento às vítimas da ditadura – do arquiteto Oscar Niemeyer e que faz parte do memorial da América Latina – e dos nomes de militantes, colocados também em colunas com espelho – onde visitantes se veem como vítimas possíveis, ao olhar o próprio rosto, e o campo dos indigentes – onde há apenas cruzes, algumas numeradas.

O ato memorial lembrou ainda diversos outros militantes que morreram vitimados pela repressão, lembraram ainda adolescentes que morreram nos últimos anos sob tortura em delegacias civis, por causa da resistência da sociedade brasileira de debater o tema, negando a brasileiros a cidadania, às famílias os seus mortos e o direito de sepultamento, dificultando o debate e impedindo a nação de virar sua página mais trágica.


O ato celebrativo teve momentos como chegada, memorial e compromisso, com leituras individuais e responsos litúrgicos, o cântico de músicas como ‘Sentinela’, de Milton Nascimento e Fernando Brant; ‘Abre as asas sobre mim’, de Ney Lopes; Suíte dos pescadores, de Dorival Caymmi; ‘Para não dizer que não falei de flores’, de Geraldo Vandré; ‘Enquanto houver sol’, de Sérgio Britto; ‘Amanhã’, de Guilherme Arantes; e ‘Apesar de você’, de Chico Buarque de Hollanda.

http://www.youtube.com/watch?v=A_2Gtz-zAzM&NR=1&feature=endscreen

Houve depoimento de lideranças religiosas que atuaram durante a ditadura acolhendo pessoas, ajudando a preservar a vida de militantes, religiosos, parentes, e gestionando em nome dos que foram torturados por engano, acusados de crimes nunca provados e dos que lutavam contra o golpe de abril de 1964. A Pastora Christine Drini, da Igreja Luterana da Baviera, Alemanha, atuando a pouco mais de um ano, se mostrou chocada ao ler informações e ver as fotos dos rostos deformados pela brutalidade extrema, no cartaz do evento.


Além do Grupo Tortura Nunca Mais, a iniciativa recebeu apoio da Comissão da Verdade (Alerj), Rede Fale, Rede Ecumênica da Juventude (Reju), Movimentos Mães de Acari, Mães da Candelária, Moleque, Associação Bnai Brith, Rede Contra a Violência, Cheifa, Iser, Iser Assessoria, Ofarere, Budista Primordial, Igrejas Católica, Anglicana, Luterana, Presbiteriana Unida, Presbiteriana Independente e Aliança de Batistas, sob a coordenação de Koinonia Presença Ecumênica e Serviço, que pediram a apuração e punição dos agentes do Estado.

O ato foi encerrado com um momento de silêncio em memória das vítimas e um abraço coletivo, com as pessoas sendo chamadas a renovar esperanças e curar feridas. E por último, bradaram: ‘Pela vida e pela paz, tortura nunca mais’.

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