segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Caminhos possíveis à vigília na adolescência


Antonio Carlos Ribeiro

O filme Insônia (drama, Brasil-Argentina, dir. Beto, com Lara Rodrigues, Daniel Kusnieka e Luana Piovani, 90 min), que ainda entrará em exibição para o grande público, trata do mundo insone dos adolescentes.  Baseada na obra homônima de Marcelo Carneiro da Cunha, reeditada pela Projeto Editora, a película trata da dificuldade de adaptação cultural.


A história narra o cotidiano do drama de filhos de brasileiros e seus cônjuges argentinos e uma peculiaridade: a dificuldade de adaptação cultural por razões emocionais. Histórias conjugadas de fugas, ajudas recíprocas, acolhimento e novo campo de trabalho, ou como neste caso, da viuvez inesperada. Retornar é voltar à dor e por isso segue sendo postergado ad infinitum.

A história é ambientes em cidades do sul do Brasil, cujo território fronteiriço, certo ambiente cultural composto de estancieiros, prendas, peões, escravos e índios dão um tecido histórico dos limites, demarcados a ferro e fogo. Mas, superados conflitos como a revolução farroupilha, ficou uma cultura rica, que os jovens passaram a reinventar nos blogs e websites, trocando toda sorte de experiência com registro eletrônico e distribuída em forma de kbytes.

É justo esse ritmo insone, da pressa acelerada, de relações que reengrenam com novos pares entre pais e mães, que se estabelece a trama com novo desenho, criadora de novas sintaxes e codificadora de novas estéticas, que o diretor do filme abusou criativamente. As cenas têm rupturas rápidas, novos planos se sobrepõem, desenhos animados sobre imagens para distinguir o real do sonho, e o ambiente da adolescência, em que conflitos tomam  a dimensão de ondas insuperáveis.

O enredo entrelaça a solidão do pai, a forte amizade entre a filha e uma colega, uma pessoa que conhecem num clube e as teias em que pontas aparentemente soltas começam a conectar a outras, fechando clarões no tecido complexo, fazendo a história ganhar ritmo, surpresas e emoções. A narrativa adota uma linguagem ágil, uma estética cibernética e um universo virtual ainda mais rápido de troca de informações, para chegar aos jovens.

A conversa com o autor do livro flui como as imagens das ruas das cidades às rodovias gaúchas, partindo de shopping centers para descobrir clubes rurais, onde intelectuais se reúnem para conferências, alguns levando os filhos. Nesses ambientes brotam relacionamentos que crescem, se firmam no enfrentamento de conflitos, através de conversas, da disposição de canais abertos, ambientados em tomadas que vão dos armazéns do Rio Guaíba, em Porto Alegre, a praças, monumentos e pontes em Buenos Aires.

Isento de cenas dramáticas fortes e tensão acima do suportável, Insônia encanta pela beleza, pela gestão dos conflitos familiares, pela história verossímil e pelo elenco que, mesmo tendo apenas uma atriz de projeção nacional, Luana Piovani, tem um desempenho bom e propicia uma história densa, mas palatável e com algumas surpresas. Para quem tem filhos adolescentes ou trabalha diretamente com esse público no Brasil, é uma obra plenamente recomendável.

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