quarta-feira, 9 de maio de 2012

Bergman – o melhor cineasta desde a invenção da câmera

Antonio Carlos Ribeiro


Rio de Janeiro - A partir desta semana o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) faz uma retrospectiva da filmografia de Ingmar Bergman (1918-2007). O diretor sueco e filho de pastor luterano, definido por Woody Allen como "provavelmente o maior diretor desde a invenção da câmera", terá 50 filmes exibidos até 10 de junho. Veja o programa http://www.bb.com.br/portalbb/page511,128,10153,1,0,1,1.bb?dtInicio=5/2012&codigoEvento=4677

Dentre os longas da mostra estarão do primeiro filme dele, Crise (Kris, 1946), ao último, Saraband (2003), passando pelos clássicos mais conhecidos do diretor, como O Sétimo Selo, Gritos e Sussurros, Morangos Silvestres, Sonata de Outono e Fanny e Alexander, entre outros. Serão exibidas também obras muito pouco conhecidas como O Olho do Diabo e Rumo à Felicidade, trazidos da Suécia.







Desde que Através de um Espelho conquistou um oscar de melhor filme estrangeiro em 1962, o diretor sueco Ingmar Bergman passou a ser perenemente associado ao cinema transcendental. Sua produção é um dos mais ricos e existenciais momentos da história do cinema. Dedicou-se a temas inerentes à condição humana  – desejo, morte, grandes perdas e religiosidade –, dilatando as possibilidades do cinema, explorando dramaturgia e tecnologia até o limite e, transcendendo a própria experiência.


Descobriu o cinema como forma de expressão no natal de 1927, aos nove anos. Ao ver o irmão presenteado com um projetor e propôs uma troca: entregou um exército de chumbo em troca do cinematógrafo. Depois, interessou-se por teatro durante o tempo de estudos na Universidade de Estocolmo, voltando-se mais tarde para o cinema. Escreveu a peça Morte de Kasper, iniciou a carreira em 1941, e o primeiro argumento para o filme Hets, em 1944. O primeiro filme, Kris, foi rodado em 1945.


Filho de pastor luterano, recebeu uma educação marcada pelas contradições da época e do lugar. Conheceu a repressão autoritária, baseada em conceitos relacionados ao pecado, confissão, castigo, perdão e graça. Seus filmes não fogem de acentos autobiográficos, com sentimentos como vergonha ou humilhação. O passar do tempo, a morte e a impossibilidade de comunicação, suas obsessões mais freqüentes, estão presentes em diversas obras.


Da experiência como diretor do Teatro Municipal de Götheborg e do Teatro de Malmoe, o cineasta trabalhou em seus filmes com um elenco quase inalterado: Harriet Andersson, Erland Josephson, Max Von Sydow, Ingrid Thulin, Liv Ullman e Gunnar Bjornstrand, que mostraram rostos, gritos, silêncios e sussurros. Além dos vários casamentos, foi acusado de burlar o fisco, sendo condenado a viver na ilha de Faro, onde reside até hoje.


Bergman não usou efeitos especiais, do fim do século XX, mas sua excelente direção de atores e a profundidade filosófica dos temas o transformaram num mito cultuado por cinéfilos e intelectuais de diversas áreas. Discreto na vida pessoal e incansável na criação, o mestre sueco criou um mundo próprio, íntegro e reconhecível, aprendendo a lidar com a tentativa do homem de definir a própria personalidade, removendo as muitas máscaras para ver o rosto que surge por trás.


O filme As melhores intenções (Den Goda viljan), dirigido por Bille August e exibido em 1992, conta a história de vida dos seus pais. Henrik Bergman é um pobre estudante de teologia em 1909, que se apaixona por Anna Åkerbloom, filha de uma rica família de Uppsala. Após o casamento, ele tornou-se pároco no norte da Suécia. Após poucos anos, Anna não pôde ficar vivendo num condado rural com pessoas rudes e sem educação formal. Ela retorna a Uppsala, deixando o marido.


Esse homem muito piedoso, severo e com pouco senso de humor, não teve conflitos para deixar a namorada para se casar com a mulher por quem se apaixonou, mãe de Ingmar. Ao mesmo tempo, Henrik é um defensor intransigente dos trabalhadores pobres, chegando até mesmo a ceder o templo para uma reunião do sindicato.


Ele narra o atendimento pastoral que seu pai prestou a alguém da realeza sueca, em crise de depressão. Nessa obra que ele apenas roteirizou, parece ter aprendido a lidar com as dores, entender o pai e perceber a inconsistência e a dificuldade de expressar emoções, nesta sociedade rica, marcada pela decadência européia e com dificuldade para lidar com os movimentos sociais, da revolução industrial de fins do século 19 e primórdios do século 20.


A genialidade da cinematografia aparece em “Cenas de um casamento (1973), que tem sua continuidade em 2003. Os atores estão mais velhos 30 anos. Liv Ulmann e  Erland Josephson, um casal que está se separando em Cenas de um Casamento e, 30 anos depois estão se reencontrando”.


O filme de Bergman que trata da parte luterana é Luz de inverno, aquele em que ele questiona o papel da igreja como orientadora. É a história de um pastor que está celebrando um culto, que é casado e tem os problemas ‘do mundo’. Há um fiel que está em desespero porque a China descobriu a fórmula da bomba atômica. Ele têm pânico porque eles podem passar e jogar um bomba, e fica totalmente alucinado com essa situação. O pastor não dá a orientação que ele precisava. Quando ele sai, o fiel tinha se suicidado. Ele vai celebrar o culto em outro lugar. Lá, a igreja está totalmente vazia, mas ele celebra assim mesmo.

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