segunda-feira, 9 de abril de 2012

Ousadia, risco e avanço da ciência

Antonio Carlos Ribeiro

Ousadia e risco são os temas que relacionam três personalidades do início da psicanálise: Sigmund Freud, Carl Gustav Jung e Sabine Spielrein. O debate intelectualizado da ciência nascente, o final do século XIX e seus costumes, as relações humanas e o avanço da ciência marcam o enredo do filme Um Método Perigoso (A Dangerous Method, dirigido por David Cronenberg, com Keira Knightley, Michael Fassbender, Viggo Mortensen. Drama, Reino Unido, Alemanha, Canadá, Suíça).



Esse longa de Cronenberg mostra como as relações, que passam de amigáveis a tensas, entre Sigmund Freud (Viggo Mortensen) e Carl Jung (Michael Fassbender) provocam sérias discussões sobre o início da psicanálise, que se tornam relevantes por causa dos riscos no debate sobre a sexualidade humana. Para os teóricos da psicanálise, o debate é maior que a intensa e polêmica relação dupla com a paciente histérica Sabina Spielrein (Keira Knightley), que depois se integra ao grupo de debate da nova ciência. O filme foi exibido em primeira mão no Festival de Veneza de 2011 e conquistou uma indicação ao Globo de Ouro de Melhor Ator Coadjuvante para Mortensen.

A narrativa começa com o Dr. Jung atuando numa clínica psiquiátrica em Zurique e encarregando-se do caso da paciente, que além de ser complicado e exigir esforço do médico, o faz deparar-se com evidências de história familiar complicada, responsável pelo comportamento autodestrutivo. O contato com o pioneiro da psicanálise - chamado Professor Freud, de Viena, e que influenciou diversos profissionais da saúde e da psique - levou o jovem médico suíço a uma ativa troca de correspondência e experiências, com este profissional quarenta anos mais velho.

Logo, começam a surgir as diferenças entre os dois – a idade, a classe social, a religião e a personalidade – que interferem na condução da pesquisa, tocando em questões como método, procedimentos e, mesmo imprevisto, envolvimento. Estes os fazem divergir, a partir de determinado momento, especialmente em relação ao caso afetivo e sexual de Jung com a paciente, a dedicação desta à mesma investigação científica, mas sobretudo pela sua postura profissional, pela credibilidade da psicanálise que Freud tanto preza e defende, e pelas descobertas e conclusões a respeito da psique humana e a sexualidade.

O relacionamento com Spielrein, especialmente ao se tornar obsessivo, torna-se uma discordância insuperável entre Jung e Freud. A paciente também estudou o assunto, se mudou e com e eclosão da guerra foi perseguida e fuzilada pelos nazistas. Freud foi expulso da Academia Médica de Viena. E Jung lucrou com seu trabalho, sustentado pela mulher da nobreza e mantido protegido na Suíça, neutra no conflito.

O filme é um relato sensível, com humanidade, mostrando a estrutura familiar, médica e de pesquisa da época. Um mérito do filme está na qualidade do relato sem afetações, marca da direção de Cronenberg, que já lida com este ambiente cultural pela quarta vez, dando liberdade de ação e atuação aos personagens.

http://www.youtube.com/watch?v=hr51iY7yXpA&feature=related#!

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